[:en]
PAULO BELLINATI (1950)
- FREVO E FUGA (2010)* 3:29
PAULO TINÉ (1970)
- RABICHOLA DE CABRA (2003)* 6:29
MARCO PEREIRA (1950)
- SAMBADALU (2007) 5:34
PAULO BELLINATI
- CARLO’S DANCE (2006) 7:23
EGBERTO GISMONTI (1947)
- A FALA DA PAIXÃO (2008) 5:51
arrangement by Leo Brouwer
MARCO PEREIRA
- DANÇA DOS QUATRO VENTOS (2006) 4:58
PAULO TINÉ
- SIBÉRIA (2006)* 4:26
MARCO PEREIRA
- AÇAÍ COM TAPIOCA (2008)* 6:00
PAULO BELLINATI
- BAIÃO DE GUDE (1997)* 4:41
Bonus track: Frevo e Fuga video
* pieces dedicated to QGQ
total time: 49:25
In Raízes do Brasil, Sergio Buarque de Holanda makes use of a metaphor to differentiate between the Hispanic and Portuguese conquistadors in the New World. While the Spaniards are portrayed as tilers – founding geometric, fully thought-out cities – the Portuguese are sowers who allow urban development to be determined by the irrational caprices of the terrain. This spirit of the immediate, which led to a delay in the advancement of public institutions in Brazil, brought a decisive contribution to the arts. Throughout the Brazilian coast – from Pernambuco to Rio de Janeiro – different musical genres germinated irregularly, effortlessly. Open to fusions, their rhythms possess a playful quality, a charming intermediate between syncopation and triplet.
In the first decade of the 21st century, Brazilian composers – specialists in the subtleties of the guitar and its chamber combinations – add meaning to these popular forms without abdicating of spirit.
Frevo e Fuga (track 1), by Paulo Bellinati, uses the frevo (a typical rhythm of the Pernambuco carnaval) in a format that evokes the Bachianas Brasileiras by Villa-Lobos, while Paulo Tiné – another Paulo from São Paulo – places the northeastern rhythms of baião, frevo, and maracatu side by side with baroque forms like the chaconne and fugue; Rabichola de Cabra (track 2) pays homage to Hermeto Paschoal and its name echoes that of the Indian sitarist Ravi Shankar.
Sambadalu (track 3), whose title is dedicated to the singer Luciana Souza, is a samba written by Marco Pereira, born in São Paulo but currently living in Rio de Janeiro. The nervous introduction, which is reminiscent of the duets between Dizzy Gillespie and Charlie Parker – or those between Benedito Lacerda and Pixinguinha – develops into a groove made popular by the sambistas of Rio de Janeiro.
In Carlo’s Dance (track 4), Paulo Bellinati evokes the urban complexities of São Paulo: the piece is written as a jequibau, a bossa nova in five-beat time invented by Mário Albanese and Cyro Pereira in the 60s.
The following track, A Fala da Paixão (track 5) is a “song without words” written by Egberto Gismonti and recreated by Cuban composer Leo Brouwer as a movement of Gismontiana, a concert for guitar quartet premiered in Brazil by Quaternaglia.
It is the search of countryside universality that drives Dança dos Quatro Ventos (track 6) – a gallop written by Marco Pereira – and Sibéria (track 7), a waltz written by Paulo Tiné which brings together influences from Camargo Guarnieri, jazz and twelve-tone music.
Pereira’s Açaí com Tapioca (track 8) marks a return to the coast: the work thrives in the juxtaposition of southeastern maxixe and the northeastern coco. The title is a reference to a popular ice cream of Belém do Pará, city where Quaternaglia – accompanied by the composer – premiered the piece.
If Frevo e Fuga was commissioned by Paulo Bellinati for a Quaternaglia performance in Columbus (Ohio) in 2010, Baião de Gude (track 9) was the composer’s first piece dedicated to the quartet. Its international edition (GSP 201) has permitted interpretations of the work by ensembles around the world. To return to it twelve years after the original recording is one of the ways in which Quaternaglia celebrates its twentieth anniversary.
Grounded on the work of Sérgio Buarque, philosopher Benedito Nunes comments on the fact that Portuguese cities in the Americas brought about a crisis of parks and gardens, symbols of the public and private spheres respectively. For Nunes, the characteristic Brazilian topos is the yard (“quintal”).
“An enclave of the rural in the urban,” the yard approximates the house to nature at the same time that it distances it from the rationality of gardens. Seeds of genres are planted in the yard; it carries the Brazilian swing beyond any written rhythms. A traditional meeting point for the practice of spontaneous music, the yard is also a place of contemplation and – as defined by Manuel Bandeira – of “poetry training.”
This CD suggests that chamber music can still learn from the sounds of the yard.
translation by David Molina
Chrystian Dozza: guitar on all tracks
Fabio Ramazzina: guitar on all tracks
Paola Picherzky: guitar on tracks 2,3,6,7,8
Thiago Abdalla: guitar on tracks 1,4,5,9
Sidney Molina: guitar on all tracks
Recording, Edition & Mixing by Ricardo Marui
Mastering by Homero Lotito
Recorded on July 2010 (Paulo Tiné and Marco Pereira), September 27, 2011 and October 1st, 2011 (Paulo Bellinati and Egberto Gismonti) at Estúdio Cantareira (São Paulo, SP, Brazil)
Bonus track: Frevo e Fuga video recorded on September 2011 at British Brazilian Center (São Paulo). Directed by Paulo Gama
Cover art by Vivian Devidé Castro
Booklet art by Thiago Ruivo
Guitars: Sérgio Abreu
PAULO BELLINATI (1950)
- FREVO E FUGA (2010)* 3:29
PAULO TINÉ (1970)
- RABICHOLA DE CABRA (2003)* 6:29
MARCO PEREIRA (1950)
- SAMBADALU (2007) 5:34
PAULO BELLINATI
- CARLO’S DANCE (2006) 7:23
EGBERTO GISMONTI (1947)
- A FALA DA PAIXÃO (2008) 5:51
arrangement by Leo Brouwer
MARCO PEREIRA
- DANÇA DOS QUATRO VENTOS (2006) 4:58
PAULO TINÉ
- SIBÉRIA (2006)* 4:26
MARCO PEREIRA
- AÇAÍ COM TAPIOCA (2008)* 6:00
PAULO BELLINATI
- BAIÃO DE GUDE (1997)* 4:41
Bonus track: Frevo e Fuga video
* pieces dedicated to QGQ
total time: 49:25
Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda utiliza a metáfora do ladrilhador e do semeador para diferenciar o conquistador hispânico do português nas Américas.
O ladrilhador funda cidades geométricas, racionais, enquanto o português – seguindo os caprichos do relevo – vai semeando vilas irregulares, sem planejamento.
Esse espírito aventureiro e imediatista dificultou o amadurecimento das instituições públicas, mas trouxe uma contribuição decisiva para as artes. Seguindo o litoral brasileiro de Pernambuco ao Rio de Janeiro, gêneros musicais germinam irregularmente, sem esforço. Abertos a fusões, seus ritmos parecem buscar o conforto da brincadeira, entre a síncopa e a tercina, saudavelmente desleixados.
Ao revisitarem essas matrizes populares, compositores brasileiros atuantes nesta primeira década do século 21 – todos especialistas nas sutilezas do violão e suas combinações camerísticas — adicionam sentidos sem abdicar da graça.
De Pernambuco vem o frevo, aqui em forma de fuga brasileiro-bachiana traçada pelo paulista Paulo Bellinati (faixa 1), assim como o baião-frevo-maracatu (aliado à chacona e à fuga) de outro paulista, Paulo Tiné: Rabichola de Cabra (faixa 2) homenageia Hermeto Paschoal e imita a sonoridade do nome do citarista Ravi Shankar.
Sambadalu, cujo título remete à cantora Luciana Souza (faixa 3), é um samba escrito por Marco Pereira, um paulista radicado no Rio de Janeiro. A introdução nervosa evoca os célebres duetos de Dizzy Gillespie e Charlie Parker – ou de Benedito Lacerda e Pixinguinha – até desaguar na levada difundida pelos cariocas do Estácio.
Em Carlo’s Dance (faixa 4) Paulo Bellinati evoca a especulatividade de São Paulo, o jequibau, a bossa nova em compasso de cinco tempos inventada por Mário Albanese e Cyro Pereira na década 1960.
Segue-se A Fala da Paixão (faixa 5), uma “canção sem palavras” do fluminense Egberto Gismonti recriada pelo cubano Leo Brouwer como movimento de Gismontiana, concerto para quatro violões estreado no Brasil pelo Quaternaglia.
É a busca da universalidade dos interiores, processo aprofundado em Dança dos Quatro Ventos (faixa 6), virtuosístico galope escrito por Marco Pereira, e Sibéria (faixa 7), valsa de Paulo Tiné com influência de Camargo Guarnieri, que não recusa o jazz e inclui até mesmo uma seção pontilhista dodecafônica.
O retorno ao litoral dá-se através de Açaí com Tapioca (faixa 8), também de Marco Pereira, um “tempo de maxixe” típico da música instrumental do sudeste justaposto ao coco nordestino. O título faz referência a um sorvete popular em Belém do Pará – também chamado “mestiço” ou “paz e amor” – cidade onde a peça foi estreada pelo Quaternaglia com a participação do compositor.
Se Frevo e Fuga foi encomendada a Paulo Bellinati para uma apresentação do Quaternaglia na cidade estadunidense de Columbus em 2010, Baião de Gude (faixa 9) havia sido a primeira obra do compositor dedicada ao quarteto. Sua edição internacional (GSP 201) tem permitido interpretações de diferentes ensembles ao redor do mundo. Voltar a ela doze anos após a primeira gravação é uma forma de celebrar os 20 anos do grupo com a segurança da força das origens.
A partir das referências de Sérgio Buarque, o filósofo paraense Benedito Nunes comenta o fato de as cidades portuguesas na América colocarem em crise praças e jardins – esses símbolos das esferas pública e privada. Para Nunes, o espaço típico do Brasil é o quintal.
“Enclave do rural no urbano”, o quintal não se abre para a rua, mas, ao contrário, aproxima a casa da natureza ao mesmo tempo em que se afasta igualmente da racionalidade dos jardins.
No quintal semeiam-se os gêneros, ajustam-se os tempos dos ritmos. Tradicional ponto de encontro para a prática da música espontânea, é também lugar de contemplação íntima e – conforme definiu Manuel Bandeira – “de treino para a poesia”.
Este CD aposta que a música de câmara ainda pode aprender com os sons dos quintais.
Sidney Molina
Chrystian Dozza: violão em todas as faixas
Fabio Ramazzina: violão em todas as faixas
Paola Picherzky: violão nas faixas 2,3,6,7,8
Thiago Abdalla: violão nas faixas 1,4,5,9
Sidney Molina: violão de sete cordas em todas as faixas
Gravação, edição e Mixagem: Ricardo Marui
Masterização: Homero Lotito
Gravado em julho de 2010 (Paulo Tiné e Marco Pereira), 27 de setembro de 2011 e 1 de outubro de 2011 (Paulo Bellinati e Egberto Gismonti) no Estúdio Cantareira (São Paulo, SP)
Vídeo track: Frevo e Fuga gravado em setembro de 2011 no Centro Brasileiro Britânico. Direção: Paulo Gama
Capa: Vivian Devidé Castro
Encarte: Thiago Ruivo
Violões: Sérgio Abreu