Estampas

Lançamento: 21/05/2010

                                        

HEITOR VILLA-LOBOS (1887-1959)

BACHIANAS BRASILEIRAS N. 1 (1930)

arrangement by Sérgio Abreu

  1. Embolada | 6:17
  2. Modinha (Preludio) | 6:47
  3. Conversa (Fuga) | 3:56

ALBERTO GINASTERA (1916-1983)

DANZAS ARGENTINAS OP. 2 (1937)

arrangement by João Luiz

  1. Danza del viejo boyero | 1:16
  2. Danza de la moza donosa | 2:44
  3. Danza del gaucho matrero | 3:09

FEDERICO MORENO TORROBA (1891-1982)

ESTAMPAS (1976)

for guitar quartet

  1. Bailando un Fandango Charro | 1:42
  2. Remanso | 2:36
  3. La Siega | 1:35
  4. Fiesta en el Pueblo | 1:31
  5. Amanecer | 1:41
  6. La Boda | 2:17
  7. Camino del Molino | 1:38
  8. Juegos Infantiles | 1:19

LEO BROUWER (1939)

TRES DANZAS CONCERTANTES (1958)

arrangement by Fabio Ramazzina

  1. Allegro | 3:23
  2. Andantino | 4:33
  3. Toccata | 5:10

SÉRGIO ASSAD (1952)

  1. UAREKENA (1997) | 8:12

for guitar quartet

total: 59:46


Quaternaglia Guitar Quartet

Fernando Lima / João Luiz / Fábio Ramazzina / Sidney Molina guitars

 

Producer, Editor & Guitars by Sérgio Abreu

Recording, Mixing & Mastering by David Hirschy / Miramontes Studios

Recorded in February 19 and 20, 2007 at Yavapai College (Prescott, Arizona, USA)

Cover, Photos and Booklet Art by Gal Oppido

 

Guitars by: Sérgio Abreu (Fernando Lima, 1987; João Luiz: 1997; Fabio Ramazzina: 2003; Sidney Molina [7-string], 1997

 

dedicated to Sérgio Abreu


Texto de Sidney Molina

Quando o Quaternaglia Guitar Quartet foi fundado, em 1992 na cidade de São Paulo (Brasil), duas influências musicais uniam os músicos do grupo: a admiração pela arte do Duo Abreu (formado pelos violonistas brasileiros Sérgio e Eduardo) e o interesse pela obra do compositor cubano Leo Brouwer.

A maioria dos integrantes que passaram pelo Quaternaglia ao longo de 18 anos nunca teve o privilégio ver o Duo Abreu tocar ao vivo – o auge da carreira dos irmãos nascidos no Rio de Janeiro ocorreu entre o final da década de 1960 e meados dos anos 1970 – e, àquela altura, no início dos anos 1990, Sérgio Abreu já havia igualmente deixado de se apresentar como solista para se tornar um respeitável luthier.

Conhecíamos bem os discos do duo, e ouvíamos com atenção todas as gravações caseiras disponibilizadas pelos colecionadores. Sabíamos, por exemplo, que Sérgio havia utilizado um excepcional instrumento construído pelo luthier norte-americano David Hirschy em sua interpretação de nove estudos de Fernando Sor, lançada em LP em 1983.

Foi um processo natural, portanto, que levou o Quaternaglia, desde o início e até hoje, a utilizar apenas violões “Abreu” em todos os concertos, gravações e turnês. Sérgio estava presente na estreia do Quaternaglia no Rio de Janeiro, em 1994, e sempre que possível acompanhou os passos do grupo.

Desde a gravação do primeiro CD (1995), para o qual o quarteto fez o primeiro registro mundial da transcrição de Sérgio Abreu para as Bachianas Brasileiras n.1 de Villa-Lobos – o disco inclui também a gravação de três obras importantes de Leo Brouwer –, o Quaternaglia passou a almejar trabalhar em um projeto que contasse com a participação direta deste grande músico.

Muitos anos depois, em 2006, a situação ideal se apresentou: no momento em que um novo repertório de qualidade começava a amadurecer, Sérgio mostrou-nos – após um concerto no Rio de Janeiro – uma faixa de áudio que havia chegado dos Estados Unidos. A gravação continha uma impressionante tomada de som, e o engenheiro era David Hirschy! A partir desse episódio, o projeto tomou forma rapidamente: agendamos a gravação com David para o início do ano seguinte (o período coincidiria exatamente com uma turnê do Quaternaglia pelo sul dos Estados Unidos); trabalhamos o repertório com Sérgio em São Paulo antes da viagem; enfim, gravamos o CD no auditório do Yavapai College de Prescott (Arizona), nos dias 19 e 20 de fevereiro de 2007. Os mesmos microfones que David utiliza nesta gravação haviam sido usados em uma gravação recente do Emerson String Quartet.

Assim, sem que nenhum de nós tivesse se dado conta, Sérgio Abreu havia se transformado no produtor musical do álbum, além de seu principal incentivador (a edição, finalizada apenas em 2009, foi integralmente realizada por ele no Rio de Janeiro).

O repertório traz obras de compositores latinos, e nele não poderia faltar uma segunda gravação das Bachianas n.1, doze anos mais madura – além de revisada pelo arranjador. Originalmente escrita para orquestra de violoncelos, é a peça inaugural da série de nove obras que Heitor Villa-Lobos escreveu durante o período 1930-45, quando já havia regressado ao Brasil após dois períodos em Paris. Tal como ocorre ao longo de toda a série, Villa-Lobos procura construir nesta obra uma ponte entre Bach (o referencial temporal, o eixo vertical) e Brasil (o espaço geográfico, o eixo horizontal). O próprio título dos movimentos revela essa tensão, na introdução que evoca os desafios dos cantadores de embolada do nordeste brasileiro, no belíssimo prelúdio-modinha, e em uma fuga final que transpira os jogos sonoros de uma “conversa” entre chorões.

As três Danzas Argentinas de Alberto Ginastera foram escritas para piano solo em 1937, e fazem parte de seu primeiro período criativo, denominado “nacionalismo objetivo”. Foi o compositor brasileiro Egberto Gismonti quem sugeriu uma adaptação da obra para quatro violões que levasse em conta não apenas a partitura de Ginastera, mas também detalhes presentes na interpretação da grande pianista argentina Martha Argerich. O trabalho foi levado a termo com grande ousadia e experimentalismo pelo violonista João Luiz. Cabe observar que a primeira peça do ciclo, “Danza del Viejo Boyero”, conclui com as notas mi-lá-ré-sol-si-mi, sequência que evoca as cordas soltas do violão.

Escrito em 1976 pelo compositor espanhol Federico Moreno Torroba, Estampas é um dos primeiros ciclos de peças originais para quarteto de violões. Tal como em algumas obras para violão solo do autor, temas populares espanhóis inspirados em paisagens e cenas do cotidiano são filtrados pelo impressionismo. O ciclo, dedicado ao quarteto espanhol Los Romeros, é composto por oito pequenas peças de caráter alternadamente contrastante.

O interesse pela obra de Leo Brouwer – que, como vimos, precede a própria fundação do quarteto – acabou aproximando naturalmente o grupo do compositor: após a gravação de suas obras no primeiro álbum (1995), vieram Ensemble Prize no Concurso Internacional de Violão de Havana (1998) e as estreias brasileiras de Concerto Itálico (2004) e Gismontiana (2008), ambas para quatro violões e orquestra. Nessa última obra, o Quaternaglia foi o solista convidado da Orquestra de Câmara da Universidade São Paulo sob a regência do próprio compositor em sua primeira visita ao Brasil. As Tres Danzas Concertantes foram escritas para violão e orquestra de cordas em 1958, quando o compositor contava apenas 19 anos. A versão aqui gravada, preparada por Fabio Ramazzina, enfatiza o caráter violonístico das partes orquestrais, bem como o caráter orquestral da parte de violão solo. Trata-se de um projeto in progress, uma etapa na direção da construção de uma versão definitiva da obra para quatro violões.

Uarekena (ou Guarekena) é uma língua indígena falada por pouquíssimos habitantes que vivem na fronteira do Brasil com a Venezuela. A peça, escrita em 1997 pelo violonista e compositor Sérgio Assad, é original para quatro violões e foi dedicada ao Los Angeles Guitar Quartet. Uarekena tem se tornado uma obra favorita de muitos guitar ensembles, e – a exemplo da Bachianas Brasileiras n.1 – é aqui gravada pela segunda vez pelo Quaternaglia (o primeiro registrado foi lançado em 2000, no CD Forrobodó). A presente versão está baseada na partitura original do compositor, anterior à edição comercial da obra, que prevê a utilização de um violão de 7 cordas no grupo.

Sidney Molina