Bellinati’s Mosaic

Lançamento: 28/10/2022

                                        

PAULO BELLINATI (1950) / WORKS FOR GUITAR QUARTET

  1. Um amor de valsa (2020)* | 4:04Quaternaglia & Paulo Bellinati (steel guitar)
  2. A Furiosa (Maxixe) (1997) | 4:01

Quaternaglia & Ari Colares (percussion)

  1. Carlo’s Dance (Jequibau) (2006) | 7:47

Quaternaglia & Swami Jr (electric bass)

  1. Baião de Gude (1997)* | 6:27

Quaternaglia & Paulo Bellinati (steel guitar)

  1. Frevo e Fuga (2010)* | 3:30

Quaternaglia & Ari Colares (percussion)

  1. Lun-Duos (1996) | 5:00

Quaternaglia & Paulo Bellinati (steel guitar)

  1. Maracatu da Pipa (2004) | 8:37

Quaternaglia & Ari Colares (percussion)

SÉRGIO ASSAD (1952)

  1. Bellinati’s Mosaic (2021)* /first recording | 6:07

Quaternaglia

* works dedicated to Quaternaglia

total time: 45:33


Quaternaglia Guitar Quartet

Chrystian Dozza (guitar Sérgio Abreu 2012 n.621)

Fabio Ramazzina (guitar Sérgio Abreu 2002 n.474)

Thiago Abdalla (guitar Sérgio Abreu 2002 n.463)

Sidney Molina (7string guitar Sérgio Abreu 1997 n.359)

 

Paulo Bellinati (steel guitar)

Ari Colares (percussion)

Swami Jr. (electric bass)

 

Created by: GuitarCoop

Musical Producer: Swami Jr.

Audio Engineer: Ricardo Marui

Recording by: Fabio Barros e Gabriel Nascimbeni

Editing and Mixing: Thiago Abdalla

Mastering: Ricardo Marui

 

Recorded at Trampolim Studio (São Paulo (SP)/ Brazil) on September 14, 21, 28 and November 2, 2021.

Microphones: Neumann, DPA, Sennheiser and Royer

Converter: Apollo (UAD) and Antelope Audio

Preamp: Millennia and API

Guitars: Sérgio Abreu

Strings: Savarez

 

Graphic Design: Eduardo Sardinha

Publishing: Patricia Millan

Photos: Heloisa Bortz

Texts: Sidney Molina

Translation: David G. Molina


Texto de Sidney Molina

Neste álbum o Quaternaglia aborda a importante obra para quatro violões do compositor brasileiro Paulo Bellinati. Nascido em São Paulo (SP), Bellinati é um dos nomes fundamentais para a internacionalização do violão brasileiro a partir da década de 1980, em um processo que segue em evolução até os dias de hoje. O início de Bellinati como compositor para violão solo e música de câmara para violões coincide com o ressurgimento de uma atividade musical bastante criativa e idiomática liderada por compositores-intérpretes virtuoses.

Esse fenômeno não constitui um fato isolado na história do violão, já que até o início do século 20, de Aguado a Sor, de Giuliani a Regondi e Coste, de Mertz a Tárrega, o repertório era basicamente escrito por compositores que também eram intérpretes.

Entre as décadas de 1920 e 1970, entretanto, a maior parte dos compositores que escreveram para Andrés Segovia e Julian Bream – Torroba, Turina, Ponce, Castelnuovo-Tedesco, Berkeley, Britten, Walton e Henze, entre vários outros – não tocavam o instrumento. Villa-Lobos, Barrios e – a partir da segunda metade do século 20 – Leo Brouwer são as exceções mais notáveis no período.

Uma mudança nesse cenário ocorreu a partir dos anos 1980, e novas obras de compositores violonistas como Francis Kleynjans, Nikita Koshkin, Roland Dyens, Štěpán Rak, Carlo Domeniconi e Sérgio Assad passaram a conviver com as composições mais experimentais de Peter Maxwell Davies, Elliott Carter, Luciano Berio, Toru Takemitsu e do próprio Brouwer.

Obras desses compositores violonistas revitalizaram o repertório com um brilhante uso de soluções instrumentais idiomáticas. Editadas e amplamente divulgadas, pouco a pouco transcenderam a atuação performática de seus autores, passando a ser tocadas e gravadas por violonistas clássicos de diferentes continentes, chegando rapidamente aos concursos internacionais e à academia.

Esses autores frequentemente incorporam, de modo estilizado e filtrado, técnicas de composição retiradas do extraordinário desenvolvimento da música popular urbana na segunda metade do século 20. Dentre essas técnicas destacam-se duas: a interferência de elementos típicos das improvisações (como as do jazz) na escrita composicional (quer dizer, uma ideia nascida no formato da improvisação pode gerar um procedimento elaborado de escrita em partitura), e uma vivência profunda das complexidades rítmicas presentes nos diversos gêneros da música popular.

Nesse quesito a América latina e, particularmente, o Brasil são especialmente privilegiados e, desde esse momento – o final dos anos 1980 e sobretudo a partir da década 1990 – não deixaremos mais de ouvir obras, autores, violonistas e grupos camerísticos brasileiros no mundo dos recitais, festivais e séries internacionais do violão. Paulo Bellinati está no centro desse movimento.

A criação da obra para quatro violões de Paulo Bellinati coincide com a própria trajetória do Quaternaglia (a colaboração entre compositor e quarteto remonta a 1996). Sua origem está num trabalho de 1990, a saber, o LP Violões do Brasil, em que o próprio Bellinati toca (com o uso do overdubbing), violão, viola caipira, cavaquinho, violão tenor e violão de 7 cordas.

Três das composições que surgiriam posteriormente em versões para quatro violões (todas gravadas neste disco) já despontavam nesse álbum: Lun-Duos (a partir do Lun-Duo para dois violões), o maxixe A Furiosa e Baião de Gude.

Vista em conjunto a obra para quatro violões de Bellinati parece ter sido cuidadosamente esculpida em termos da diversidade dos gêneros da música brasileira: aos citados lundu, maxixe e baião, seguiram-se o jequibau Carlo’s Dance (samba-bossa nova em compasso de 5 tempos), um frevo de rua (Frevo e Fuga, encomenda do Quaternaglia de 2010), as riquezas do maracatu “nação” e “rural” (Maracatu da Pipa, a partir de uma versão para 3 violões) e, finalmente, valsa brasileira (a versão de Um amor de Valsa, original para violão solo, preparada pelo compositor especialmente para esta gravação).

Todas as composições de Bellinati para quatro violões foram trabalhadas em novas versões especialmente para este álbum comemorativo. Baião de Gude, Lun-Duos e Um amor de Valsa contam com a honrosa presença do compositor que, ao lado do Quaternaglia, adiciona um quinto violão, um histórico “violão seresta” de 1935 com cordas de aço. Já os ritmos do frevo, maracatu e maxixe são potencializados pela presença do aclamado percussionista Ari Colares, referência internacional na percussão brasileira. Por fim, o próprio produtor do álbum, Swami Jr., instrumentista eclético e versátil, adiciona uma criativa linha de baixo elétrico aos quatro violões acústicos em Carlo’s Dance.

Da mesma geração de Bellinati, Sérgio Assad é certamente um dos mais requisitados, gravados, interpretados e cultuados compositores brasileiros em atividade, e há muito tempo o Quaternaglia almejava encomendar a ele uma obra inédita para a formação. Bellinati’s Mosaic (2021) faz uso de “pedrinhas sonoras” compostas por Bellinati para formar novos desenhos.

O mosaico de Assad é tecido em uma forma móvel, cambiante, em que as pequenas peças vão encaixando umas nas outras sem se desfigurarem. Submetidas a uma nova geometria, estão lá temas como A Furiosa (o motivo condutor), Baião de Gude, Pingue-Pongue, Maracatu da Pipa, Tom e Prelúdio (o belo tema lento), Um amor de Valsa, Jongo, e outros, numa quantidade quase inabarcável de tesselas.

Bellinati’s Mosaic lança novas luzes sobre a obra do homenageado, permitindo que as faixas anteriores possam ser ouvidas múltiplas vezes, em diferentes ordenações e permutações, sempre de forma renovada.

Sidney Molina